A morte de Dominguinhos
foi notícia nos principais veículos de comunicação do país. Muito se falou de
sua vida de músico, cantor e compositor. Não poderia ser diferente, pois que o
sanfoneiro era um grande artista, com o talento reconhecido pelo público e pelos
colegas de profissão, como Luiz Gonzaga, Flávio José, Santanna, Maciel Melo, Jorge de
Altinho, Elba Ramalho, Fagner, Gilberto
Gil e tantos outros que gravaram músicas suas, ou cantaram com ele, ou
simplesmente gravaram alguma de suas composições.
A mídia mostrou quase tudo
sobre Dominguinhos. Faltou, no entanto, dizer alguma coisa sobre a vida do
artista em Garanhuns, na sua infância e juventude.
Tentamos algumas
informações aqui mesmo na cidade, pois nas biografias publicadas nos jornais e
sites da internet não encontramos nem mesmo o nome da mãe do músico. Citam apenas o pai, Chicão, também ele sanfoneiro.
VIZINHOS - Dona Eliete
Martins, 72, mora numa casa simples da Rua Djalma Dutra, no bairro de
Heliópolis. Ela, seu esposo Pedro e toda sua família conviveram de perto com
Dominguinhos, seus pais e irmãos que eram muitos. “Acho que eram 9 ou 10”, recorda a velha senhora,
sem saber exatamente quantos, porque faz muito tempo. “Eu sou casada há mais de
50 anos e quando a família foi embora eu ainda era solteira, quase uma menina”,
recorda, ela que nasceu apenas alguns meses antes de Dominguinhos.
Ela lembra que na época,
na Rua Frei Caneca, onde hoje existe o Hospital Monte Sinai, havia um conjunto
de casas de taipas, residências muito comuns no interior nordestino, construídas
com barro e varas. Seu Chicão a mulher e os filhos moravam de aluguel numa
dessa casinhas. “O proprietário era Zé Catão, ele recebia o aluguel por semana”,
lembra Eliete.
A senhora do bairro de
Heliópolis não precisa quanto tempo a família Moraes morou no local, mas
acredita que foi um período maior do que cinco anos.”Quando chegaram os filhos
eram pequenos e quando partiram, para o Rio de Janeiro, Dominguinhos mesmo já
era um rapazinho”, informa.
O pai de Dona Eliete, José
Martins, conhecido como Zé Gago, tinha a casa e uma bodega no número 120 da
Djalma Dutra. Mesmo na esquina com a Frei Caneca. Hoje no local, funciona um
estabelecimento comercial, tipo uma lanchonete. Ela lembra bem que muitas vezes
o menino Domingos vinha a pedido dos pais comprar sardinha, aquela popular, que
é vendida em latões, e que tem um cheiro muito forte quando está fritando. “Ele
pedia a meu pai para escolher, queria levar uma bem gorda”, revela com um
sorriso, pois em sua opinião esses peixes são todos iguais.
FESTAS - A vizinha dos
Moraes disse que a família ganhava o pão tocando em festas. Os mais
requisitados eram o pai e Dominguinhos. “Eles eram convidados para animar
muitas festas. Batizado, casamento, aniversário. Tocavam também na feira, que
era no comércio. Na porta do Hotel (Tavares Correia) e nas cidades vizinhas”,
complementou a moradora de Heliópolis.
Ela lembra, ainda, que um
senhor chamado Valdemar, que morava na Avenida Rui Barbosa, vivia inventando
festas só para chamar Dominguinhos. Pelo que deu a entender era uma maneira de
ajudar.
O ARRAIAL - Neste tempo
lembrado por Dona Eliete, essa parte de Heliópolis era bem diferente. Nas
imediações da Frei Caneca e Djalma Dutra, hoje totalmente habitadas, tinha muito matagal. Não existiam os hospitais nem as clínicas
atuais, as casas eram simples e até a Igreja do Perpétuo Socorro era diferente
da que os garanhuenses conhecem, de formas arredondadas. “Era uma igrejinha
pequena, depois é que fizeram essa”, esclareceu. Aliás, 50 ou 60 anos atrás
toda a área citada era conhecida como o “Arraial”.
Ela garante que os Moraes
eram boa gente, queridos por todos. De Dominguinhos mesmo não sabe uma única
história de arruaça ou má conduta. “Quando a família resolveu ir embora, atrás
de um futuro melhor, nós ficamos tristes, houve choro”, relembra.
Segundo Dona Eliete
Martins, parte das comidas preparadas na viagem foram feitas na casa do seu
pai. “Eles prepararam o bode aqui”, salientou.
Viajaram de pau de arara. “Nesse
tempo tinham muitos caminhões que faziam o percurso até o Rio ou São Paulo e a
viagem durava até 14 dias”, informou.
Essas são as principais
recordações da vizinha e amiga dos Moraes. Tem fatos que ela esqueceu. Lembra
bem de Seu Chicão e os filhos, o jeito da mãe dos meninos, mas não teve jeito
de recordar o nome dela. “Era católica, ia a igreja com o marido, levava os
filhos”, ressaltou, acrescentando um comentário curioso: “Gente pobre sempre é
católica”.
Embora admita que
Dominguinhos tenha vivido uns tempos em Recife, onde também se apresentava como
músico, ela assegura que o sanfoneiro e toda família saíram de Garanhuns
diretamente para o Rio de Janeiro.
“Eles deram sorte lá assim
que chegaram. Chicão foi comprar uma cama e na loja recebeu um cupon. Foi
sorteado e ganhou um carro. Vendeu e adquiriu sua primeira casa em Nilópolis,
cidade em que foram morar”, revelou, satisfeita, a moradora da Djalma Dutra.
Dona Eliete disse ainda
que Dominguinhos quando vinha a Garanhuns, e se hospedava no Hotel Tavares
Correia, procurava rever pessoas dos tempos em que morou na cidade. “Eu mesmo
nunca fui não, mas tenho uma prima que ia ao hotel conversar com ele. Simples,
ele nunca mudou”, finalizou a colega de infância e adolescência de José
Domingos de Moraes.
(Fotos publicadas originalmente nos portais G.1 e O Nordeste.com)