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CIDADÃO KANE - FILMES INESQUECÍVEIS - 82º

Jornalistas e veículos de imprensa respeitados no Brasil, na Europa, nos EUA e noutras partes do mundo costumam apontar Cidadão Kane como o melhor filme realizado até hoje.

Essa pretensão de indicar o respeitado trabalho do cineasta Orson Welles como o melhor de todos os tempos não é aceita por muitos cinéfilos e críticos.

Um fã ardoroso de Alfred Hitchcock pode muito bem avaliar que nenhum filme é melhor do que Os Pássaros, ou de que Psicose, Janela Indiscreta ou Um Corpo que Cai. Uma mulher apaixonada pela obra de Charles Chaplin irá defender que Luzes da Cidade, Tempos Modernos ou o Grande Ditador – qualquer um dos três – merece encabeçar a lista dos 10 melhores de todos os tempos.

Alguém irá achar que o melhor filme de sua vida é “E O Vento Levou”, outro dará preferência a “Assim Caminha a Humanidade”, não faltarão defensores de “Ben Hur” e “Casablanca” e amantes da sétima arte mais contemporâneos poderão votar em “Um Sonho de Liberdade” ou “Cinema Paradiso”. Opções não faltam, mesmo levando em consideração somente trabalhos de inegável qualidade.

Cineastas como Bergman, Polanski, Kurosawa, Buñuel, De Sica ou Kubrick fizeram filmes maravilhosos,  muitos deles dignos de figurar no primeiro lugar de uma relação dos melhores trabalhos.

Independente, porém, de ser o primeiro, o quinto ou o vigésimo melhor filme da história do cinema, não há dúvida que Cidadão Kane é importante e merece ser conhecido pelos desejam se aprofundar na sétima arte.

Lançado em 1941, Kane está à frente do seu tempo e revolucionou a indústria cinematográfica na fotografia, na maneira de contar a história, na condução dos autores e no manejo das câmeras pelo então jovem Orson Welles.

O cineasta, que além de dirigir o longa interpreta o personagem título, Charles Foster Kane, tinha apenas 24 anos quando concluiu esse trabalho. Já conhecido pela sua atuação no rádio, Welles entrou também para a história do cinema a partir desse filme,  que virou lenda em Hollywood e no resto do mundo.

Cidadão Kane conta a história de um menino pobre que ficou rico quando sua mãe herdou uma mina de ouro. Quando adulto diversifica seus negócios e monta um império na área de comunicação, com emissoras de rádio e jornais espalhados nas principais cidades americanas.

Em algum ponto não há como não lembrar de Assis Chateaubriand, o empresário dos Diários Associados, que na década de 50 também comandou um império de jornais, rádios e emissoras de TV no Brasil.

A história de Kane teria sido baseada na vida do magnata William Randolph Hearst, que tentou proibir a exibição do filmes nos Estados Unidos, quando do seu lançamento.

Charles Kane é um homem de opiniões firmes, que tenta impor suas ideias aos seus funcionários, à sociedade e até as mulheres com quem foi casado. Uma delas era sobrinha do presidente dos Estados Unidos, a outra uma cantora de ópera sem muito talento.

Por conta principalmente do seu temperamento, Charles vai do céu ao inferno. Esteve para se eleger governador e perdeu a eleição na reta final, por conta de um escândalo. Teve de tudo e quebrou. As mulheres com quem casou terminaram por deixá-lo só.

O filme começa com a morte de Kane, em seu castelo suntuoso e inacabado, chamado de Xanadu. Pouco antes do último suspiro, ele pronuncia a palavra “Rosebud”.

Um repórter corre atrás das pessoas que conviveram com o empresário para descobrir o significado da palavra, sem obter êxito. No final o expectador é que ironicamente vê desvendado o mistério. Um trenó da infância de Charles é levado ao fogo e nele aparece a inscrição “Rosebud”. Era a marca do brinquedo.

A crítica informa que a tradução do termo para o português levaria a expressão “botão de rosa”. Por aí se chegaria à genitália feminina e ao clitóris, talvez objeto de fixação do personagem.

Pode ser só imaginação, até porque em 1941 se pensava que o orgasmo da mulher era vaginal, não se tinha ainda descoberto que o clitóris era o órgão responsável pelo prazer feminino.

Capaz de gerar tanta polêmica e discussão, não resta dúvida de que Cidadão Kane é um filme revolucionário, de grandes qualidades e que possibilita várias leituras. Não pode, assim, ficar de fora de uma relação de obras cinematográficas importantes. 70 anos depois do seu lançamento não perdeu a atualidade e a capacidade de impactar o expectador.

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